A história do Manel e do pai que não o quer.
Chegou-me aos ouvidos, hoje, esta história. E porque a tristeza é tanta e o sentimento de impotência é tão grande, resolvi que a ia partilhar.
O Manel é um menino com 14 anos. Veio de África há dois ou três, à procura de uma solução para o problema de visão de que o afeta. Com ele veio o pai, supostamente, para tratar dele e para o acompanhar na luta contra o tempo e contra a doença.
Agora começa a história.
O Manel, que tem 14 anos, já está cego de um olho e vai cegar do outro. Não há, pelo menos aqui, solução para ele. O pai, que ele adora, assim que se apanhou em Portugal tratou de o institucionalizar com a justificação de que não tem condições para o ter. O Manel passou a viver numa instituição, longe das suas raízes, dos seus irmãos, da sua mãe e também longe do pai que veio para o acompanhar. O Natal do Manel vai ser passado na instituição que o acolhe, porque o pai, que ganhou o passaporte porque vinha tratar o filho e acompanhar o filho, nem nos dias em que trabalhou à porta da instituição perdeu 5 minutos do seu tempo, para entrar e para lhe fazer uma visita.
E o Manel continua a adorar o pai.
E o Manel vai à escola todos os dias, mas recusa aprender braile, porque lá no fundo ainda tem esperança que o olho que já pouco vê, se mantenha assim para sempre.
E os professores e as professoras do Ensino Especial continuam a ter paciência com o Manel, a fazer fichas com letras gigantes, a ler as perguntas, a escrever os seus cadernos.
E o pai continua cá, porque veio acompanhar o filho, mas não quer saber se ele está bem se mal, se triste ou contente.
E o pai todos os dias se levanta para fazer a sua vida, sem se preocupar se o Manel tem de sair da instituição ainda sem o sol ter nascido, porque a volta é grande até à escola.
E o pai, programou o seu Natal, sem se lembrar que o que o Manel mais queria era passar o Natal com ele.
E nós continuamos a permitir que esta gente fique, mesmo depois de ter declarado em tribunal que não queria o filho. E nós, a nossa justiça, os nossos governantes, temos culpa deste e de outros Manéis e Marias, passarem o Natal numa instituição, quando cá fora alimentamos os pais que vieram, que quiseram, que se aproveitaram dos filhos para entrar.
Se Eu Mandasse Nisto...
...Talvez o Manel passasse o Natal na instituição, mas pelo menos não ficaria triste do pai não o ir buscar, porque o pai já teria sido mandado, de vez, de volta para a terra dele.