A sala de espera da pediatria é tecnologicamente absurda.
Infelizmente as otites cruzaram-se no meu caminho e tive de passar a tarde na sala de espera de um hospital. Pessoas a entrar, pessoas a sair, pessoas com ar de estarem francamente doentes, outras nem por isso, tempos de espera absurdos para quem está doente e precisa de ser consultado........Nada novo e nada disto me espantou. Limitei-me a olhar e a observar sem que nada disto fizesse clic na minha cabeça.
No meio dos olhares perdidos, e quando a impaciência já era alguma, estiquei as pernas, alarguei os horizontes e dei uma espreitadela à sala de espera da pediatria. E foi aí que o clic se fez.
A lotação não estava esgotada, mas estaria perto do limite. Havia crianças de todas as idades. Os mais pequenos de meses, nos carrinhos ou ao colo dos pais(?) e os outros, a partir do ano e meio ou dois anos até aos 12 ou 13. Tirando os bebés, todos, mas todos, estavam a olhar para um tablet ou para um telémovel. Em alguns casos, os filhos (?) a olharem para um e os pais(?) a olharem para outro e noutros casos, os pequenos sentados ao colo, com o telefone na mão. Não havia uma única criança a brincar. Não havia uma única criança a olhar para o vazio. Não havia uma única criança a conversar com os pais(?).
Absurdo. Não fosse o chorar de um ou outro bebé e o único som que se ouvia na sala era o da bonecada que estava a dar nos inúmeros aparelhometros ligados.
Pergunto-me se os pais agora já não levam brinquedos na mala. Se já não se anda com o livro de histórias. Se deixaram de se transportar os livros de pintar e os lápis e cor. Se já não se joga à sardinha.
Aparentemente, parece que não. O tablet e o telemóvel passaram a ser uma espécie de chucha. Qualquer coisa do género "toma e cala-te". Suponho que seja muito mais prático, mas não deixa de ser um bocadinho assustador.
Se Eu Mandasse Nisto...
....As crianças só podiam mexer no tablet e no telemóvel depois de saberem brincar, de saberem conversar e de saberem ficar sem fazer nada.