A culpa é uma cena tramada
Passamos a vida à procura de culpados. Como se todas coisas, todos os atos, todas as decisões tivessem sempre um motivo, uma justificação, uma cara por traz.
Se o governo não faz, culpados são os que votaram neles.
Se o homem matou a mulher, culpados foram os policias que não deram cabimento às queixas.
Se os professores fazem greve, culpados são os sindicatos que querem sempre mais e que não percebem que já são uma classe privilegiada.
Se os alunos não aprendem, culpados são os professores. Se são malcriados, culpados são os pais.
Se há lixo na rua, culpados são os funcionários da câmara que não limpam.
Se o clube perdeu o jogo, culpado foi o treinador. Se perdeu o campeonato, culpados foram os árbitros.
Se uma relação não funciona, culpado foi o outro.
Se o comer queimou, culpada foi a vizinha que tocou à porta naquela hora.
Será assim tão difícil perceber que, na maioria das vezes, os culpados somos nós? Somos nós porque deixamos. Porque não fizemos. Porque permitimos. Porque não reagimos.
Porque se calhar, no dia das eleições tivemos coisas mais interessantes para fazer, do que ir lá pôr a cruz. Porque um dia, viramos a cara para o lado e fingimos não ver, não ouvir, não saber. Porque ignoramos. Porque não ensinamos a respeitar e dar valor. Porque atiramos o papel para o chão. Porque aprendemos a arranjar justificações até para o injustificável.
Se Eu Mandasse Nisto...
...Antes de olhar para o lado, olhávamos para baixo. Muitas vezes a culpa está debaixo do nosso chapéu.