O problema do Supernanny é outro.
Não vi o episódio e não tenciono ver, mas depois de tudo o li sobre o assunto arrisco-me a dizer que o problema do programa está nos pais, não está nos filhos.
Desde a estreia do programa que se levantam vozes sobre a exposição mediática a que as crianças são sujeitas, sobre os danos que daí podem surgir, sobre o papel da suposta nanny e por aí fora, numa lista que já vai longa. Mas cá para mim todos estes problemas estão longe, mas longe, do problema real.
Para mim, o problema real está nos pais. Quando há pais que a troco de 1000 € (parece que foi isso que receberam) aceitam mostrar ao país a sua incapacidade para desempenhar o papel de pais, aí é que está o problema. Quando pensam que estão a mostrar as birras dos filhos e na verdade o que mostram é a sua incapacidade para lidar com elas, aí é que está o problema. Quando acham que mostram as respostas tortas dos filhos e não percebem que o que estão a mostrar é a educação (ou falta dela) que lhes deram, aí é que está o problema.
O problema não está nos filhos, está nos pais.
Os pais é que há muito se demitiram da função de serem pais. Os pais é que trocaram a sensatez pela pedagogia. Os pais é que passaram a ter medo de serem pais e de desempenhar o seu papel. Os pais é que passaram a querer ser "os melhores amigos" e se esqueceram que para isso existem os colegas da escola e que os pais têm de ser pais.
Há crianças difíceis? Há.
Há questões que são difíceis de resolver? Há.
As crianças fazem birras? Fazem.
As crianças testam os limites da nossa paciência? Todos os dias.
Educar é uma tarefa difícil? Muito.
Mas nada disto justifica que um pai ou uma mãe tenha necessidade de se expor publicamente, para resolver estas questões. Não os ajuda em nada. Não lhes dá mais credibilidade junto dos filhos. Não contribui em nada para a sua autoridade de pais.
Quanto a mim, pior do que a exposição da crianças, que um dia irão crescer e ser adultos e passarão por cima disto tudo, pior do que isso, é ser pai e ter de sair à rua e enfrentar as pessoas a quem mostraram o quão mal desempenham o seu papel.
O meu pai é meu pai há mais de 40 anos. Aposto, como ainda hoje, se ele achasse que em alguma altura eu estava a falhar na educação que me deu, era senhor para me corrigir e não teria dúvidas nenhumas na forma como essa correção devia ser feita.
Se Eu Mandasse Nisto...
...o programa saía de cena para salvaguardar a imagem dos pais.